Conto Pokémon - Aquilo que brilha, nunca se apagará!

Neon
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Capítulo 1

Numa manhã chuvosa e entediante de domingo, quando Túrio nada esperava para o dia, eis que alguém toca a campainha:

Din-don! 

─ Já vai! ─ Túrio era um menino muito vivaz, serelepe. Rápido correu até a porta.
Na sua soleira, parado cordialmente, estava um rapaz de uniforme azul, com uma bela caixa à mão.

─ Ora, Túrio, nada adianta correr quando sou eu que tenho que assinar o papel de recebimento ─ Disse um homem alto, de braços cruzados, atrás do menino.

─ Sim, pai, eu sei... Mas não pude evitar a curiosidade, e agora aumentou ainda mais por causa desse pacote.

─ Pois se trata de um presente, Túrio. ─ Pronto, obrigado ─ Disse Roger, dispensando o entregador.

─ O que é?! O que é?!

─ Tome, vá abrí-lo.

Túrio quase escorregou no chão da sala, tamanha a pressa que lhe tomou para saber o que havia no pacote.

Quando tirou a fita que mantinha-o fechado, se deparou com dois grande olhos piscando, lhe fitando.

Ah, é um Pokémon! Não acredito...

Levou aquele ser pequenino ao alto, apertou – o contra o peito e não contendo-se de alegria, exclamou:

─ É uma gothita, pai, uma linda gothita!

─ Sim, você não comentava dias atrás que seus poucos amigos haviam partido para uma jornada, que estava ansioso para fazer o mesmo e que só lhe faltava um Pokémon? Pois bem, aí está, ela veio de Castelia, em Unova.

─ Poxa, pai... Muito obrigado! Agora, sim... Eu e gothita seremos parceiros de viagem!

Gothita também havia gostado instantaneamente do menino, sorria ao ouví-lo falar, tão animado, tão cheio de si. Porém, fora da casa, uma conversa que ia na contramão daquele clima prazeroso, se desenrolava:

─ Você está doido? Questionava seriamente aquele que era não só irmão, mas o melhor amigo de Roger, Jorge. Alimentando o sonho daquele menino, mesmo estando “careca de saber” que ele não pode partir em uma jornada?

─ Sei muito bem disso, Jorge, mas aquele Pokémon está entretendo Túrio, além do mais, se trata de um tipo psíquico, Gothita pode ajudá-lo com os afazeres de casa, pode até cuidar dele...

Gothita não precisou ouvir aquele diálogo para ficar com a “pulga atrás da orelha”. Desde que bateu os olhos no menino, entendeu que havia algo de diferente reservado para ele.

Capítulo 2

Na casa de Túrio, uma festa se fazia. 10 anos! 10 anos! O menino havia chegado a maturidade necessária para iniciar sua experiência mundo afora. Todos estavam entusiasmados com a ideia, mas Roger e Jorge, soturnos, conversavam a sós num cômodo da casa:

─ Irmão, essa Pokémon pode trazer mais problemas do que somente a esperança infundada que você acabou inflando no menino... Me disseram que Gothita, em seu último estágio evolutivo, possui uma particularidade, ela prevê a morte do treinador e chora copiosamente a cada dia que isso se aproxima.

─ Eu não sabia... − Respondeu cabisbaixo - No entanto, Roger, não é local nem hora para tratarmos disso. Vamos voltar a festa ou Túrio vai estranhar e começar a fazer perguntas.

Falou aquilo com convicção, mas estava triste e muito preocupado. Não queria que os bastante prováveis últimos meses de seu filho fossem melancólicos. Ele não saberia como agir se Gothita passasse a se comportar de modo distinto.

As velas do bolo foram sopradas, Túrio pediu para que sempre estivesse ao lado de Gothita. Ela, no colo de seu treinador, fez o mesmo pedido. Queria estar sempre junto ao menino!

Na manhã seguinte, Túrio estava mais do que pronto para iniciar sua jornada, era cedo, mas ele já se encontrava de roupa trocada, boné na cabeça e mochila cheia. Estava se encaminhando para sair com seu Pokémon quando seu pai o pegou pelo braço.

─ Túrio, tenho algo para te pedir. Sei que você está muito ansioso para partir e embarcar em aventuras, contudo, a casa vai ficar sozinha e à mercê de invasores, já vivemos isolados da cidade, o que facilita uma situação dessas. Logo vou me aposentar, em cerca de um mês, talvez um pouco além, será que pode adiar infimamente sua viagem e permanecer aqui no lar por mais um tempo?

O menino desabou os ombros.

─ Bem, se não há remédio e se é por curto período, fico. Aí, aí, vou guardar minhas coisas...

─ Muito obrigado, filho. Vou para o trabalho, então.

Mais tarde naquele dia, enquanto Túrio assistia TV ao lado de sua querida Gothita, um repentino gotejar seguido de chuva se fez presente, e num sobressalto, o avoado se lembrou.

─ Caramba! As roupas estavam secando lá fora, eu deveria ter tirado há cerca de duas horas... Elas vão ficar encharcadas e meu pai uma fera!

Disparou pelo quintal a fim de recolher tudo. Prendedores na boca, o braço atulhado de pano, e ainda dava um jeito de sorrir e gesticular para Gothita que ele havia conseguido e estava voltando para o abrigo do teto.

Mas tudo escureceu... Sua visão sumiu.

Gothita disse à si mesma: ─ Fui cuidada com tanto carinho, agora chegou a minha vez de cuidar dele.

Uma luz brilhante, como as estrelas que sua espécie lê, envolveu seu corpo. Outrora pequenina e desengonçada, transfigurou-se em uma figura esguia, aprumada.

Mas infelizmente, o nascimento de Gothorita foi acompanhado pelo declínio de Túrio...


Capítulo 3

Túrio despertou em sua cama, ele não sabia, mas o médico da cidade havia estado ali, examinando–o. Seu prognóstico foi: mais três semanas. Ele tinha uma doença terminal.

Dali em diante, seu estado de saúde foi se deteriorando. Coisas simples do dia – a – dia se tornavam mais e mais difíceis. Começou a precisar de apoio para tomar banho. Depois, de alguém que o ajudasse a se levantar da cama, e finalmente até para comer necessitava de uma mão amiga lhe levando a colher a boca.

Gothorita fazia tudo aquilo por ele, e jamais derramou uma lágrima nesse interim. Sorria, sorria sempre, com seu sorriso afável.

Pouco antes de perder as forças de vez, ele chamou seu pai, precisava lhe confidenciar algo.

─ Pai, fiquei sabendo do meu prognóstico há alguns dias, escutando por acaso, sua conversa com o doutor... Tenho que lhe agradecer, por causa dessa omissão fui uma criança feliz, muito feliz até agora, brinquei e me diverti demais com Gothorita. Não preciso pedir que olhe por ela, essa amiga sabe bem como cuidar de si, inclusive dos outros.

A vida do menino se extinguiu, Gothorita, após esse fato, passou a demonstrar um comportamento atípico. Ficava inerte diante da janela, fosse manhã, tarde ou noite. Ela permanecia ali, não importava os apelos de Roger, Jorge ou quem quer que fosse.

Eles não puderam suportar aquilo, se decidiram por ir embora. Roger, que já não tinha mais ninguém, se pôs a caminhar pelo mundo, terminou seus dias na estrada, talvez cumpriu o desejo de seu filho. Jorge, porém, não o acompanhou. Tinha uma esposa e filha que moravam em outra cidade, as quais havia deixado temporariamente, para viver um sonho de trabalho com o irmão. Retornou a elas e achou por bem comentar o que fosse indispensável, não escondia nada, mas não alimentava o passado.

Capítulo 4

Íris estava no sétimo mês de gravidez. Todos ficavam preocupados por ela estar dirigindo para uma outra cidade, Slateport. Entretanto, ela precisava, na verdade, queria, resgatar alguns dos pertences da família, que haviam ficado na casa em que seu pai viveu com seu tio. Além do mais, ainda faltava dois meses para o bebê nascer.

Estava na estrada a um bom tempo, mas finalmente chegou à cidade destino. Embora a casa que seu pai viveu fosse um tanto afastada do centro, precisava parar ali, comprar algumas coisas no mercadinho local, na farmácia local... Provavelmente teria que dormir na velha casa aquela noite, então era melhor estar munida de alguns itens.

Simpática, conversou um pouco com os vendedores dos locais onde passou, todos pareciam um tanto surpresos quando ela dizia que iria para longe do centro, todavia não se ateve a isso. Logo estava de volta ao seu carro, dando a partida e partindo dali.

Alguns minutos depois, já pronto para ir descansar após um dia atribulado no serviço, o médico residente olhava espantado e indignado para a traseira de seu carro:

─ Que “pé pesado” fez isto?! Ainda por cima, fez e nem prestou contas a respeito!

─ O que aconteceu, doutor?! Perguntava afobada, a enfermeira que saiu às pressas do Pokecentro.

─ Ao que parece, o veículo que se encontrava na vaga atrás do meu, me causou um belo estrago. Veja só, enfermeira Joy!

─ Que estranho, não escutei qualquer barulho... E uma batida assim, não é silenciosa.

O doutor não tinha tempo a perder com esse tipo de conversa, tratou de saber se a enfermeira conhecia o causador do incidente e a mesma prontamente respondeu:

─ Não a conheço, não reside na cidade. Sim, foi uma mulher, parece ser nova por aqui e me disse que irá para aquela casa antiga, isolada.

─ Pois bem, não tardarei a aparecer lá.

Capítulo 5

Havia um motivo para aquela casa, além de velha, estar abandonada. Ninguém iria querer morar numa residência com um Pokémon que não saia de frente da janela, tão estático quanto um móvel. Gothorita Permanecia ali, desde que seu menino, Túrio, havia falecido.

Porém, Íris não fazia ideia desses detalhes, seu pai, Jorge, indicava não gostar de se estender sobre essa parte do passado. Estranhamente, bastou pôr os pés na cidade e o bebe em sua barriga se tornou extremamente inquieto. Agora não era só isso, estava tendo contrações e sua bolsa tinha estourado. Não era momento da criança nascer, mas ela não iria discutir com o mesmo.

Chegou a casa quando já era de noite, chuva e relâmpagos se faziam ouvir em uníssono. Com dores, ofegante, abriu correndo a porta que dava para a sala de estar e foi direto para o que parecia ser um quarto. Não quis pensar nos lençóis sem trocar a anos, nem em mais nada referente a casa. Se deitou, lembrou de tatear a procura do celular a fim de telefonar para alguma emergência daquele lugar, mas o aparelho havia ficado no carro. Ela teria que se virar sozinha.

Curiosamente, começou a sentir uma intensa calma, uma sensação de que ela estava bem e segura, o que de um ponto de vista racional, não era o caso. Percebeu que em frente a porta, uma luz maravilhosa se projetava nas paredes. De repente, a luz cessou e uma elegante figura negra se aproximou de sua barriga e a tocou. Até o bebê se aquietou... Íris achou que estava alucinando.

─ Desculpe, estava tudo aberto, me disseram que você é nova na cidade, mas isso não te exime de se responsabilizar pelo que fez com meu carro, você vai ter que pagaaa... O que?

O doutor residente se deparou com uma mulher em trabalho de parto, sangrando bastante. Ele havia ido até ali com a intenção de obter uma solução para seu veículo, e agora estava pensando numa solução para resolver aquele problema que se apresentava.

Por sorte, esse médico sempre tinha no carro ferramentas fundamentais para lidar com emergências. Conseguiu acudir mãe e bebe.

Quando Íris acordou, notou que ao redor de si estava um homem vestido de branco e uma vistosa figura negra, um Pokémon.

─ Por pouco as coisas não se complicaram mais em relação ao seu parto, além de ter a mim por perto, provavelmente essa Gothitelle te ajudou. Por algum motivo, ela evoluiu na noite passada e isso possibilitou expandir ainda mais seus poderes psíquicos.

─ Agradeço muito, a vocês dois... E o bebê, onde está? Como está?

─ Veja bem, ele nasceu prematuro, quer dizer, ela, pois se trata de uma menina. A recém nascida vai precisar de cuidados especiais por enquanto, levei – a ao meu hospital. Sabe, depois de vários anos essa Pokémon finalmente parou de fitar a janela e voltou a interagir com humanos. Algo de especial essa situação toda deve ter....

─ Não sei, eu voltei a essa casa só para pegar alguns pertences que foram de meu pai, Jorge, que viveu aqui com seu irmão e sobrinho. Nada me disseram sobre a Gothorita ou a atual Gothitelle.

─ Você é prima do falecido Antúrio, ou Túrio, como todos o conheciam. Que coincidência! Me contaram que essa Pokémon e esse menino não se largavam, que até chegaram a prometer um ao outro estarem sempre juntos. Talvez o parentesco a despertou de seu estado apático...

Será que era isso mesmo? Pode ser, mas na opinião de outros que acompanharam essa história e o desenrolar dela, há mais do que a mente racional quer enxergar.

Dizem que Gothitelle não estava em choque todos esses anos, incapaz de absorver a perda de Túrio. Não, ela guardou para si qualquer lágrima que quisesse respingar,se resguardou. Isso deu a ela acesso a grandes poderes, de modo que foi possível prever exatamente quando Túrio retornaria, em outra forma, é verdade, mas ainda assim, ele. E mais, sua inatividade em frente à janela, era contemplação, espera pelo momento que isso aconteceria, quando então, precisaria agir. Gothitelle pode até mesmo ter chamado Íris até ali, por meio de sua telepatia... É difícil saber o quão extensas suas habilidades se tornaram.

De qualquer forma, contarei o que veio em seguida e mais a diante, até onde nossos olhos e ouvidos puderam acompanhar.

O médico se casou com Íris, e aquela menina prematura recebeu o nome de Cosmos. Ah, a família acolheu de braços abertos também Gothitelle. Cosmos cresceu, aprendeu medicina com seu pai e a ler as estrelas com sua amiga Pokémon. Hoje, as duas percorrem o mundo ajudando aqueles que se encontram em estado de transição, de partida dessa terra, e ao mesmo tempo, os que se despediram daqueles que partiram. Rumores contam que elas costumam chegar em meio a tempestades e quando se vão, deixam sempre um arco – íris para trás.

Nota do autor: 

Olá, Pessoal! Espero que tenham apreciado o conto! Pretendo postar as histórias todas as quartas-feiras, se o tempo permitir e se nada de atípico ocorrer. 
Ao longo de minhas publicações, serão abordados todos os tipos Pokémon existentes. Muito provavelmente, cada conto terá um tipo como foco. Não foi difícil descobrir o de hoje, não é? Por favor, deixem nos comentários as opiniões de vocês, as impressões, etc. Vou ficar super contente de ler. 

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